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Projeto Gestão da Sustentabilidade para Competitividade das Micro e Pequenas Empresas

Por José Antonio Fares - Superintendente do Sesi e IEL Paraná

 

O Relatório de Competitividade Global para 2013-14 do World Economic Forum demonstra que a competitividade na América Latina está estagnada e que são necessárias reformas e investimentos para garantir o crescimento econômico.

 

Em que pese o crescimento mundial, o Brasil não o acompanha, sobretudo, no campo da competitividade. Hoje ocupa o 56º lugar no ranking do World Economic Forum e a indústria brasileira também não tem respondido no mesmo ritmo de evolução do mundo, mesmo com o aumento do emprego formal.

 

Segundo esse mesmo Relatório, o Brasil caiu oito posições (56º) e continua enfrentando dificuldades decorrentes de vários fatores, dentre eles, um déficit de competências, tecnologia e inovação que impede muitas empresas de agregar mais valor à sua atividade produtiva. Estes dados revelam a necessidade de planos e investimentos para alavancar a produtividade que cada vez mais reside na excelência em gestão e na inovação.

 

Buscar novos meios e políticas para alavancar o desenvolvimento econômico e social com preservação dos recursos naturais se configuram como um importante desafio para empresas e governos em todos os países, independentemente da definição mais sucinta ou mais ambiciosa que se adote sobre sustentabilidade. Esse conceito não pode estar dissociado da noção de desenvolvimento, que por sua vez nos remete aos temas produtividade e competitividade das empresas, como elementos do desenvolvimento sustentável.

 

José Puppim de Oliveira, em seu livro Pequenas Empresas, Arranjos Produtivos Locais e Sustentabilidade, afirma que “competitividade não está em subsídio governamental, mão de obra barata, taxa de câmbio favorável, legislação ambiental e trabalhista frouxa, balança comercial positiva e baixa taxa de inflação, mas sim, na produtividade com a qual os recursos humanos, capitais e ativos físicos são desenvolvidos e utilizados de forma sustentável”. Nessa perspectiva, os arranjos produtivos ou clusters de MPEs constituem-se em importantes alternativas para a manutenção das condições favoráveis à exploração das potencialidades regionais para a geração de riquezas com eficiência coletiva, sustentabilidade e acesso a mercados. Além do mais, um conjunto de políticas e procedimentos para empresas em regime de APLs ou aglomerados industriais tende a ser mais efetivo nos resultados econômico, social e ambiental, pois várias ações alcançam melhor escala e eficiência por trabalharem em conjunto.

 

Por outro lado, é irreversível a tendência imposta pelo mercado globalizado e que também ganha força e apreço da sociedade, a preferência por produtos e serviços economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente corretos em busca do tão almejado desenvolvimento sustentável.

 

A pesquisa O que pensam as Micro e Pequenas Empresas sobre Sustentabilidade realizada pelo SEBRAE Nacional em 2012, junto a 3,9 mil empresários desse segmento revelou, por exemplo, que a maioria dos entrevistados avaliou o nível de conhecimentos que possui sobre o tema sustentabilidade e meio ambiente como “médio” (65%), enquanto uma minoria (2%) disse não conhecer esses temas.

 

Esses resultados demonstram que um dos grandes desafios é fazer com que uma quantidade cada vez maior de micro e pequenas empresas incorporem o conceito de sustentabilidade em suas práticas de gestão e estratégias de mercado, conduta essa que impacta na sua permanência, seu crescimento e desenvolvimento no mercado, diminuindo o risco de mortalidade que costuma ser elevado entre os novos negócios.

 

É impreterível articular estratégias e apoios que contribuam com o importante papel desempenhado por micro e pequenas empresas na geração de emprego, na distribuição da riqueza e no desenvolvimento sustentado da economia brasileira.

 

Micro e pequenos empresários que atuam alinhados ao conceito da sustentabilidade tornam-se agentes difusores de uma cultura empresarial comprometida com o desenvolvimento sustentável, confirmando que a sustentabilidade pode se tornar um fator de competitividade, devendo incorporar-se às estratégias e planos de negócios das MPEs.

 

Neste contexto, o Projeto Gestão da Sustentabilidade para Competitividade das Micro e Pequenas Empresas desenvolvido pela parceria entre SESI Departamento Nacional, SESI Departamentos Regionais e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID/FUMIN. objetiva melhorar o desempenho e aumentar a capacidade competitiva de 360 MPEs ligadas a APLs, Aglomerações ou Sindicatos Patronais de 07 estados brasileiros - MG, RJ, PR, DF, CE, RR e SC -, por meio da difusão de uma cultura empresarial comprometida com o desenvolvimento sustentável.

 

A atuação abrange a governança do território e a busca do fortalecimento das empresas ocorrerá não apenas orientada ao crescimento econômico, mas também atenta às novas oportunidades de negócio e benefícios que podem ser gerados quando uma gestão está focada no aumento da produtividade, da competitividade, na redução de riscos e impactos e no aperfeiçoamento da cadeia de valor. Como as MPEs também são parte da cadeia de grandes empresas e que muitas destas já estabelecem critérios de qualidade para compra, este Projeto também contribuirá na qualificação da MPEs para ampliar suas vantagens competitivas.

 

Uma vez que o projeto está no âmbito da RSE é preciso considerar a forte interface entre competitividade, produtividade e gestão responsável. De acordo com a norma internacional ISO 26000, uma empresa que mantém o moral e empenho dos colaboradores, que atua na melhoria de sua reputação, que retém colaboradores e clientes e melhora o relacionamento com outras empresas, governos, mídia e comunidade é uma empresa que pode ampliar suas vantagens competitivas.  Ainda, a Comissão Europeia identifica efeitos econômicos quando a cultura da RSE atua em seis determinantes indicadores de competitividade: custo de estrutura; recursos humanos; perspectiva do consumidor; inovação; desempenho financeiro, e administração do risco e reputação.

 

Portanto, além da ISO 26000 e da Declaração da Comissão Europeia estes nexos também estão presentes no Modelo SESI de Sustentabilidade no Trabalho – que se configura como a principal ferramenta de orientação das ações deste Projeto – a qual avalia prática e performance das empresas em cultura organizacional, gestão de pessoas, ambiente de trabalho seguro e saudável, desenvolvimento sócio-ambiental, educação e desenvolvimento e inovação.

 

O Modelo SESI de Sustentabilidade para a Competitividade parte de alguns conceitos já colocados pelo seu antecessor, o Modelo SESI de Sustentabilidade no Trabalho, e busca novas referências e alinhamentos conceituais para estabelecer seus fundamentos teóricos e práticos.

 

O desenho conceitual do Modelo atual observa a atuação da empresa em sete campos, sendo três internos (na camada superior do diagrama), três externos (na camada inferior) e um central à empresa. Este seria a síntese e o foco do trabalho empreendido: Sustentabilidade para a Competitividade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cada um desses campos deve apresentar características que definem o caminho da empresa em busca de Sustentabilidade para a Competitividade. A cultura organizacional é responsável; o ambiente de trabalho é seguro, saudável e produtivo; as pessoas são motivadas e inovadoras internamente, para que externamente sejam transformadoras; os públicos de relacionamento são comprometidos e o desenvolvimento da sociedade é sustentável.

 

A sustentabilidade para a competitividade pressupõe gestão desses campos. O Projeto se propõe a criar e implementar metodologias para identificar e diagnosticar a situação atual das empresas, territórios e setores industriais e, com base nesses resultados, elaborar planos de ação para intervir nos fatores condicionantes da competitividade para a sustentabilidade do negócio.

 

 

O quadro abaixo resume a metodologia de trabalho do Projeto:

 

Quadro 1 – Metodologia: etapas e status:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Dados do Projeto, 2014

 

 

O SESI Paraná opera o Projeto em 5 territórios e atende um total de 61 empresas filiadas aos Sindicatos: SIVALE em Apucarana; SINVESPAR em Francisco Beltrão; SINDVEST em Maringá; SINDEMCAP e SINDUSCON/PR em Curitiba.

 

Na etapa atual do Projeto no Paraná os Sindicatos realizaram a priorização dos temas a serem trabalhados pelos territórios e setores o que possibilitou a definição dos Workshops dos seguintes temas:

 

  • SINDENCAP: Missão, Visão e Valores; Condições e recursos para a saúde pessoal; Capacitação, desenvolvimento e treinamento; Relacionamento com clientes e consumidores; e Processo produtivo ecoeficiente.

  • SINVESPAR: Relacionamento com clientes e consumidores; Capacitação, desenvolvimento e treinamento; Missão, Visão e Valores; Responsabilidade Fiscal e Relacionamento com o Fisco Processo; e produtivo ecoeficiente.

  • SINDUSCON: Capacitação, desenvolvimento e treinamento; Missão, Visão e Valores; Consumo Consciente; Condições e recursos para a saúde pessoal e Apreciação de Contexto de Mercado.

  • SINDVEST: Capacitação, desenvolvimento e treinamento; Consumo consciente; Cooperação e desenvolvimento em parceria; Missão, Visão e Valores; e Relacionamento com fornecedores.

  • SIVALE: Benchmark e busca pela qualidade; Remuneração e benefícios; Capacitação, desenvolvimento e treinamento; Desenvolvimento humano, crescimento pessoal e visão de futuro; e Apreciação de contexto de mercado.

 

Na medida da realização dos workshops as empresas dão início aos seus Planos de Ação, os quais são mensalmente acompanhados pela consultoria do Sesi/PR para a adoção de novas práticas de gestão com foco na sustentabilidade do negócio.

 

 

A partir das etapas já percorridas pelo Projeto no Paraná resultados preliminares sinalizam que:

 

 

  • Os empresários estão mais atentos ao tema sustentabilidade e sua relação direta com a competitividade. As capacitações, os workshops, as visitas presenciais e as reuniões oportunizaram ao empresário desmistificar o tema e perceber que vai além muito além da preservação ambiental.

  • O Projeto gerou um clima de motivação e um sentimento de valorização e protagonismo nas empresas participantes, pois nem sempre há a possibilidade de MPEs integrarem um trabalho dessa envergadura, cuja finalidade é gerar impactos concretos em seu desempenho.

  • As atividades do Projeto demonstraram aos empresários que as empresas mais inovadoras e competitivas são aquelas que estão abertas a aprendizagem e desenvolvem a habilidade de gerenciar o conhecimento, ou seja,  incorporam-no aos seus produtos e serviços.

  • Os empresários percebem a materialidade e a interdependência que existe entre investimentos nas condições e ambiente de trabalho com a produtividade e satisfação do seu trabalhador.

 

Os trabalhos do Projeto não se esgotam e derivam oportunidades futuras, como por exemplo, o desenvolvimento de líderes em sustentabilidade nas MPEs, pois há carência de lideranças com potencial para transformar e engajar progressivamente a sociedade civil, os governos, as empresas e as organizações sociais e acadêmicas.

 

Ao final do Projeto, espera-se alcançar a expressiva melhora no desempenho de MPEs, tornando-as mais competitivas e sustentáveis. A adoção de práticas de gestão permeadas por esses princípios trará benefícios para a economia local, organizando a cadeia de valor; para o mercado consumidor, que receberá produtos de qualidade e para o planeta, pois a produção obedecerá a padrões da sustentabilidade.

 

Cada vez mais a indústria brasileira terá que ser inovadora, competitiva e sustentável. Com este Projeto, o SESI vem efetivamente contribuir com esse desafio.

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

FUNDAÇÃO DOM CABRAL. Manual Modelo Sesi de Sustentabilidade para a Competitividade. 2013.

OLIVEIRA, José Antonio Puppim de (Org.) Pequenas empresas, arranjos produtivos locais (APLs) e sustentabilidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.

SEBRAE. O que pensam micro e pequenas empresas sobre sustentabilidade. Brasília: Sebrae Nacional, 2012

SESI. Departamento Nacional. 2013.

SESI. Departamento Regional Paraná. 2013.

TERRA MATER. Descrição Metodológica da Linha de Base do Projeto SESI – BID. 2013. 

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